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Este blog mostra a quem não o viveu, com a funda mágoa e tristeza de um alfacinha, o dia em que LISBOA CHOROU!
O trágico dia 25 de Agosto de 1988, em que Lisboa acordou em sobressalto sentindo arderem-lhe as entranhas, o coração, e se lançou num pranto apenas aplacado pelas cândidas águas do Tejo, que ali perto a tudo assistiam na sua milenar serenidade.
É também um tributo a todos aqueles, militares, polícias, bombeiros, socorristas, médicos, enfermeiros, jornalistas, cidadãos anónimos, todos aqueles, enfim, que directa ou indirecta e abnegadamente lutaram e combateram naquela madrugada e manhã fatídicas para salvar Lisboa de desaparecer tragada pelo fogo, pelo braseiro, transformada num deserto de destroços calcinados e cinzas.
Há 20 anos eu era maquetista no jornal "O Diário", cuja redacção era na Rua de São Bernardo à Estrela. Este jornal era um matutino e nós, maquetistas, só iniciávamos o nosso período de trabalho depois de almoço. Assim, tínhamos as manhãs livres.
Foi esta liberdade 'matinal' que me permitiu fazer esta dolorosa reportagem fotográfica.
Logo que manhã cedo tomei conhecimento dos acontecimentos, apanhei o comboio em Oeiras e rumei a Lisboa com a minha máquina fotográfica, que me acompanhava sempre para todo o lado.
O resultado foi este acervo fotográfico aqui apresentado.
A máquina de que eu dispunha à época era uma ZENIT 12XP com uma objectiva HELIOS 44M-4 acoplada com um filtro SKYLIGHT 1A COKIN.
Os filmes utilizados foram um KODAK PLUS-X 125/22° e um KODAK TRI-X 400/21°.
Este acervo de imagens não contempla o incêndio em si mesmo, numa perspectiva muito próxima, mas tal tem uma razão óbvia.
O local, hoje diríamos o Ground Zero, estava completamente cercado por uma barreira de forças policiais que impediam a passagem a toda a gente menos, é claro, aos bombeiros, equipas de socorro e a pessoal médico.
Os próprios jornalistas, tanto quanto recordo, tiveram imensa dificuldade em aproximarem-se para fotografarem e fazerem reportagens.
Contudo há um aspecto neste meu acervo fotográfico que me parece relevante.
É ele, o aspecto das ruas, largos, praças e travessas de toda a zona envolvente, inundadas de tristes gentes. É a multidão que ali se juntou para ver, de longe, o desenrolar dos acontecimentos.
À distância e num contexto absolutamente distinto, creio que a muitos de vós algumas destas imagens farão recordar o 25 Abril 1974.
Oeiras 25 Agosto 2008
Veja as imagens abaixo:
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5 comentários:
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TESTE
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Acompanhei pela televisão a partir de Gaia, esta fatalidade. E chorei. O Chiado está nas minhas memórias de menina e era local obrigatório, quando muitas vezes a minha Mãe ia buscar o meu Pai ao Banco, onde trabalhava e que ficava na Rua do Ouro. Quantas vezes por lá íamos, ver montras, ir às livrarias, ou simplesmente lanchar.
Quando mais tarde fomos para Angola em comissão de serviço do meu Pai, sempre que vínhamos de férias, lá íamos todos encontrarmo-nos com os meus primos... e lá íamos aos Armazéns do Grandela, comprar tecidos para roupas novas...
recordações que sempre me vêm à lembrança nestes momentos...
Um beijo ;)
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Olá Menina Marota,
Acho que todos chorámos naquele dia, para lá das nossas memórias pessoais, ao ver desaparecer tragado pelo incêndio todo aquele património arquitectónico, cultural e histórico de Lisboa.
São muitas as recordações que nos vêm à memória, tens razão.
E essas memórias devemos passá-las aos novos, para que estes saibam o que o Chiado era.
Grato pela sempre simpática e agradável visita.
bjs
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Não conhecia a extensão dos danos do incêndio do Chiado, sabia que tinha acontecido um incêndio - na altura nem ler sabia ainda - mas nunca imaginei que tivesse tais proporções...
Eu orgulho-me de ter um conhecimento bastante ecléctico mas tinha aqui uma falha grande.
Fui pesquisar a ver o que encontrava: Wiki, notícias etc...
http://jn.sapo.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=509177
Devo dizer que o incêndio gerou imenso dinheiro, pois com a reconstrução da zona, esta foi ainda mais valorizada... obviamente que quem lá morava não deve ter tido grandes benesses... :(
Bem achei estranho quando entrei em inúmeras stores / lojas do bairro os interiores serem extremamente modernos e espaçosos e as fachadas serem dos séculos XVIII e XIX...
Perdeu-se um património de valor incalculável, multiplicado pelo valor de 2 vidas humanas. : (
Enfim, excelente reportagem!...
Olá Kenny,
Obrigado pela visita e pelos elogios, um bocado exagerados. Fiz o que me foi possível naquelas circunstâncias.
O acesso às zonas ainda a arder estava vedado pela polícia, e tive que fotografar de longe.
Dei a volta completa a toda a área, contornando-a por fora e sempre a fotografar.
O resultado são estas fotografias.
Perdeu-se de facto uma zona histórica da capital, cheia de hábitos, histórias, romances, dramas e tradições, que dificilmente voltarão.
Ficam-nos as memórias materiais e imateriais possíveis.
Abraço,
José António Baptista
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